Hoje,
tive um dia de reflexão sobre a minha vida, das saudades que sinto e de todo um
caminho que eu percorri para conquistar o que eu sempre vi como promessa para o
futuro: a solidão. Belamente norteado por um dos baixos de meu transtorno
bipolar.
Com a dor
da inflamação de meu pulso direito e dos dedos mínimo e anelar, me sinto um
velho por relacionar a dor ao mau tempo que brinda meu sofrimento interior com
uma chuva fina, pós-chuva torrencial, mas verdadeiramente causado por um
incidente de tempos atrás, que algumas poucas pessoas conhecem. Sinto uma
lágrima correr meu rosto e logo se misturar com a água da chuva, que após se
acumular sobre minha cabeça, escorre pela minha fronte. Fazendo trilha sonora
para o meu descontentamento, toca no meu celular My December, seguido por Snuff, do Slipknot. As poucas pessoas com quem cruzo
nas ruas não percebem meu pranto embalado que se intensifica, pela escuridão e
pela chuva que assim como minhas lágrimas caem em maior volume; ou por
simplesmente ignorar. Afinal, não é da conta delas.
Uma
angústia toma conta de meu coração, apertando-o. Lembro da minha desatenção e
distante companhia, enquanto acariciava não um Motorola V3, mas uma lembrança
de tempos sem volta. Não é difícil perceber onde meus pensamentos repousam.
Arrependimento pelo que eu não fiz, ou não tive coragem de fazer; não sei ao
certo. Vejo meus dias passarem sem companhia, sem amizades, sem aquelas
conversas desconexas ou intelectuais, ou ainda, risos e minha voz estridente,
tão característicos. Há muito, eu já havia percebido que minha alma se quebrou,
como um reflexo em um espelho alvejado pelas pedras da vida (ou de pessoas que
menos esperava). Meu céu está nublado. Penso que o que tenho não me basta.
Será?
Enquanto
observo um carro que está parado em frente ao ponto de ônibus, bloqueando a
parada dos que chegam, começa a tocar Sorrow, de outra banda que adoro: Bad
Religion. Sou novamente atacado pelo meu próprio transtorno, abaixando minha
face e elevando os olhos, apertando os dentes e tomando a velha postura
agressiva que ajudou a moldar meu apelido. As lembranças novamente tocam minha
mente, transformando meus lábios em um meio sorriso. Lembro de quem eu sou, e
de tudo o que eu fiz para chegar onde estou. Das coisas que eu fiz por
acreditar que era o certo. Lembro de tudo o que eu decidi, e que também decidi
não voltar atrás. Lembro de palavras doces e de choro compartilhado. Lembro das
palavras de incentivo e de como me sentia despertado de um sono letárgico depois
de ouvir que tudo ia passar e um prolongado abraço. Estes momentos serviam pra
me dizer "você não está só". Ainda sinto o calor do abraço. O que
será que procuro?
Inundado
por estes sentimentos, eu me sinto eu novamente. Embarco no ônibus. Olhando desafiadoramente
para o "conteúdo" do ônibus após cumprimentar o motorista, encarno
novamente a revolta, visto minha velha pele, sinto-me novamente um lobo entre
cordeiros.
"O
QUE VOCÊ TÁ OLHANDO, CARALHO?!?"
Sim, aqui
estou eu, de novo.
"Você vendeu minha alma, para salvar a si mesma..."
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