Gostaria de deixar claro que escrevi Caminho imperial numa época
interessante, mas que eu sou forçado a admitir que eu não tinha a minima ideia
do quão intensa a vida poderia ser... Aaaah se eu pudesse saber as coisas
terríveis que poderiam vir a acontecer...
eu falaria com mais cautela e duvida e menos certezas
Caminho Imperial foi escrito em meados de 2oo8 quando eu terminei
um relacionamento, na verdade o primeiro relacionamento real por minha parte
a ironia? É que da vez que eu fui jogar serio... Só eu joguei.
Eu achava que era o fim... Mas na verdade era apenas o inicio
de algo muito pior que duraria por anos.
Isso tudo é apenas para que você entenda o contexto
É engraçado.
O
diferente nasceu para ser descartado. Enquanto o normal é apenas cômodo
e aceito. Por isso, procuro ser diferente. Eu sou diferente.
Incomodado, revoltado e indignado.
Não uso somente a inteligência que tenho; mas toda que eu puder tomar emprestado. E já que penso, logo me engano.
Quando
somos crianças, somos induzidos a nos passar por otários. Em meio a
tantas festas de aniversário. Somos comprados com brinquedos e mimos,
para sermos rapazinhos educados.
Muito bem educados.
Por
uma família insatisfeita e desestruturada e, por um sistema de ensino
deficiente. Somos comprados a todo momento, para que não nos tornemos
adolescentes rebeldes. Para que possamos aceitar a hipocrisia e a
mentira. Para que possamos engolir as coisas à seco.
Mais um trago. Mais um gole.
Procurei meu caminho desde cedo. Trilhei caminhos cheios de pedras e encruzilhadas.
Apesar de ter tomado caminhos alternativos, saí-me bem.
E por onde eu passei, muitas pessoas fizeram o sinal da cruz e declamaram orações por minha alma.
Tolos! Tolos incompreensíveis.
Eu
sou somente o que sempre fui. Eu sou o filho do Senhor. Sou filho do
Fogo e da Terra. Filho da Lua e do Sol. Como você, sou filho de Deus.
Ele me fez assim.
Tolos!
O que faço a ti para ser rejeitado assim? É querer demais ser respeitado?
Mais um trago. Mais um gole.
Ahhhh! Gostos amargos percorrem minha língua. Sentimentos frios percorrem a minha alma!
Antes,
cheguei a impor às pessoas, as minhas opiniões sobre a vida, o mundo ou
sobre outras coisas banais; até mesmo sobre o amor.
O amor me faz lembrar de muitas palavras belas e doces. Muitas delas, sem sentido algum.
Ah, o amor! O amor! Sentimento inebriante, cego e, totalmente inexistente.
Quanto
vale cinco minutos de sua vida? Esse é valor do amor verdadeiro, aquele
que está extinto a tanto tempo. Acha pouco? Cinco minutos da minha vida
são tão inestimáveis quanto uma hora; um dia; ou cinco anos da sua.
Por
que o amor se esgotou? Talvez porque, o homem ignora a existência de
Deus. Não existe mais. Não existe mais nada. As pessoas quando amam;
amam seu carro, sua casa ou qualquer coisa de valor mundano. Ou pior,
amam o que é dos outros.
Me
dê seu talão de cheques; preciso ir ao banheiro. Me dê seu colar de
brilhantes, eu o trocarei por um abraço de uma criança. Talvez o único
abraço sincero que posso ter.
Queria ser pai.
Gostaria
de saber o por que de sermos todos assassinos. Gostaria de saber por
que termos que matar as crianças que fomos por uma vida adulta; para
podermos brincar de papai e mamãe.
Será
que todo amor incondicional e desapegado é moralmente errado? Por que
não posso amar, sem trazer algum tipo de constrangimento ao alvo de meu
amor?
Eu
entendo que, todos são reflexos de um imenso espelho, vivendo em
hibernação até descobrirem que estão perdendo sua vida a troco de nada.
Entendo que, as pessoas se espelham em outros reflexos; “ótimas” figuras
e pessoas de nossa rica cultura televisiva.
Mas será que o reflexo do vazio e inexistente tem imagem?
Ser romântico é piegas.
Queria
ser como Roberto Carlos disse; um amante-amigo, eterno namorado de
alguém que não me peça nada. Fazer por prazer, ou por fazer. Quero sim,
mandar flores e fazer serenata, sem ser alvo de piadas e panelas de água
fria, disparadas da boca e das mãos, que desejei tocar. Queria fazer
amor com meu coração, e não simplesmente, com a minha genitália. Queria
sentir outro coração bater no mesmo compasso do meu; senti-lo em meu
recostado em meu peito. Queria ver o Sol nascer, e com cabelos para
acariciar. Queria, queria, queria. Fico desejando coisas que não mais
existem ou ninguém deseja. Queria ser eu mesmo, e ainda assim, ser
amado.
Só
desejo olhar nos olhos e não ver que, os olhares que cruzam com o meu
são de pena. Não sou digno de pena. Sou uma alma livre; livre como os
pássaros. Aqueles que voam tão alto no céu, para serem alvejados pela
inveja humana, em forma de pequenas pedras.
A liberdade é incompreendida. Quem voa com as asas da liberdade, não voa para um final feliz.
Aceitei meu destino. Quero voar livre e fugir das pedras. Quero um abraço.
Agora
que, julgo as pessoas por suas ações; eu que sou o julgado. A todo
momento sou julgado. Muitas vezes, por coisas que não fiz.
Deixar
de cometer erros está fora do alcance do homem. Entretanto, de seus
enganos o sábio e o homem racional adquirem experiência para o futuro. O
único homem que não comete erros é aquele que nunca faz coisa alguma.
Não tenho medo de errar, pois sempre aprendo a não cometer duas vezes o
mesmo erro. Afinal, errar é humano, mas, quando a borracha que gasta
mais depressa que o lápis; estamos, logicamente, exagerando.
Deve
estar pensando que eu falo sobre mim. Está com a razão; mas, não
conhece a verdade sobre o que penso. Também falo de ti. Afinal, somos
todos iguais; sou como você. Ou será que não vê?
Não
me esqueço que sempre aprendo, quando eu ouço. E apesar de, passar a
maior parte do meu tempo falando; muitas coisas escuto e guardo para
mim.
Quando
me encontro e me perco, em minhas ponderações e pensamentos vagos, me
perguntam se eu vejo o que me tornei. Sei que me tornei repetitivo; mas,
é que sou tão rebelde que não correspondo nem sequer as minhas próprias
expectativas.
Lembro-me
do começo de minha adolescência. Era engraçado me ver segurando um
boneco ou carrinho, enquanto no canto da minha boca seca, jazia um
cigarro apagado.
Hoje, meu cinzeiro vive cheio de bitucas, cheias de pensamentos e lamentos.
Sempre
me intriguei com as sensações de um baseado recém-tragado ou com o
ardor na minha garganta, provocado por um pigarro insistente.
Todos os gases e vapores da cidade me impressionam. Acho as estrelas tão belas, quando não as vejo, por causa da poluição.
Lembro-me muito bem, de meu primeiro psicólogo; a primeira vez a gente nunca esquece.
Meus
pais me achavam muito rebelde. Não me lembro o que falei a ele naquele
dia. Lembro-me de ter batido em alguém, ou ter quebrado alguma vidraça.
Lembro-me,
também que, estava frio e que no consultório tinha gostosas bolachas
salgadas. Sempre aproveite quando é de graça, diria um velho amigo; em
tal situação.
Meus pais, provavelmente, escutaram o que eu sempre soube.
Eu era alguém que precisava de mais atenção. Era isso que eu buscava; carinho. Quem não o quer? Quem não o merece?
Sei
também, que, tenho o temperamento difícil. Mas, se sou assim, é porque
não gosto do comodismo; não faço nada por simples e puro modismo.
Acredito no Eu.
Não que eu não acredite em Deus. Tenho uma grande fé sem ser religioso. A religião é o ópio do povo; como já disse Marx.
E soma-se isso, às novas drogas contemporâneas que, entorpecem nossos sentidos e nos fazem ficar cegos ao que nos ocorre.
O
futebol, o fascínio pela imagem, entre outras coisas menores estão no
mundo para fazer-nos esquecer de nossos problemas; nem que seja por
noventa minutos.
Não precisa ser químico ou tragável e inalável para ser alucinógeno.
Acho
estranho o fato de que toda vez que entro em uma igreja, eu seja tão
observado. Sei que, as pessoas não vão lá movidas pela fé; ou o que
seja. Vejo que, na grande maioria, vão para ter assunto, para discutir
em suas mesas de jantar, enquanto fazem suas refeições rápidas e sem
gosto, durante a semana; sobre como fulana ou fulano estava vestido ou
até para ver aquela gatinha que vai aos domingos levar sua avó para a
missa, culto ou sabe-se lá como chamam aquilo.
Pessoas
brilhantes falam sobre idéias. Pessoas medíocres falam sobre coisas.
Pessoas pequenas falam sobre outras pessoas. Grande verdade. Uma língua
afiada é a única ferramenta cortante que se amola com o uso. É sim.
Não agüento essa minha sensação de inutilidade.
Gosto muito de me ver cercado por muitas pessoas.
Venham
todos, sentem-se conosco em torno da fogueira. Temos pouco para
oferecer, mas, podemos muito bem dividir nosso vinho e nossas batatas.
Seja bem-vindo; do itashimashite!
Pegue o nosso violão e divida conosco suas canções.
Temos sempre muitas histórias para contar, afinal, damos muito valor a acontecimentos inesperados.
Nada é descartável. De descartável já me basta, eu próprio e a garrafa de refrigerante, cheia de vinho barato.
Como
dizia o poeta, desenho não é rabisco. Vamos falar sobre o que nos é
palpável. Grande sábio foi Sócrates; pois, ele sabia que a verdadeira
sabedoria não se encontrava nos livros, e sim nas pessoas e suas vidas.
Vidas que se tornariam, se tornaram ou vão se tornar tais livros.
O mundo é tão extenso. Tão vasto.
E
o homem, em sua incessante busca pelo conhecimento, invade novas
terras. Terras distantes e vazias. Inocentes, pensam que já conhecem
tudo sobre o lugar em que vivem, apesar de, todos os dias descobrirem
coisas novas.
Coisas e fatos fascinantes, mudando nosso rumo nesta vida. A ignorância não mata, mas faz suar um bocado.
Sabe? Sinto-me imprestável.
Sou
apenas um homem de plástico, feito para ser inquebrável. Para conseguir
viver em meio às engrenagens nessa grande máquina incontestável.
Acho
cômico; tenho sempre uma longa e descontraída gargalhada, para aqueles
pomposos e gordos senhores, jogando dominó e bebendo cerveja em algum
bar; em algum lugar; em algum Domingo perdido.
I’m smoke one cigarrete; ou fumo um charuto para conseguir beber uma pinga. Para mim, tanto faz.
Eles
se mantêm, ali, bebendo e mantendo seus imensos barrigões; onde apoiam
suas mãos e braços leprosos, com o corpo devidamente sustentado pelas
suas canelas secas.
Talvez,
por se preocuparem demais com seus umbigos estufados; não enxerguem que
sempre estão cercados de meninos, que só esperam mais um espetinho
mendigado.
Meninos
barrigudos também; não porque regam suas frustrações com cerveja ou as
alimentam com churrasco; mas, porque têm que conviver com a falta de
coisas básicas e com as suas barrigas-d’água.
Desnutrição
e indignação sempre caminham juntas, de mãos dadas, não dificilmente
ditas juntas. São tão bonitinhas, até rimam, não é verdade?
Talvez, seja um ótimo início de um longo e belo discurso político. Ou não.
Políticos, políticos.
Sempre tão cheios de si; donos de muitas caras e bocas. Sejam eles, da causa operária ou da calça de cetim. Têm sempre razão.
Todos vivem de esperança. Elegidos ou eleitores.
Esperança
de convencer e vencer de um lado do palanque; esperança de conseguir
acreditar e acertar, depois de muitas tentativas do outro.
Milhares de sorrisos. Estão sempre sorridentes, apesar de tantas promessas quebradas e da total falta de forças para continuar.
Mas hoje, tem show daquele artista famoso; promovendo aquele candidato simpático.
O sonho acabou.
Eu sinto sua voz a ponto de explodir em sua garganta, na forma de um poderoso grito: Cale a boca!
Sente-se queimar em ódio? Cansado de minha incessante repetição de assuntos? Cansado da minha voz?
Por
quê? Pelo fato de estar escutando isso tudo de um negro? Ou por eu ser
um mulato? Por eu ser branco talvez? Diga-me! Anda, diga-me!
Faça um favor a sim mesmo, cometa suicídio. Se jogue do andar mais alto de um dos seus edifícios.
Assalto
à mão armada, quero sua vida. Eu quero ver você no chão. Pisar nas
flores, destruir/construir estacionamentos. As crianças vão Ter que
brincar num labirinto de cimento. Eu quero acidentes, eu quero confusão.
Eu adoro Renato Russo.
Incomoda-lhe a imensidão de sua incompetência e mediocridade. Sente-se vazio.
Esconde-se
de si mesmo, o tempo todo. Gritando; fazendo-se ouvido. Transferindo
toda sua culpa e raiva. Seja pelo seu casamento frustrado, pelo seu
filho mimado ou sua incapacidade de conduzir sua própria vida. Prefere
transferir seus problemas para o primeiro pobre coitado que aparecer em
sua frente.
Sei até que prefere aqueles que, com seu suor, sustentam sua vida de decepção; enquanto você fica aí se lamentando e reclamando.
Prefere
aqueles que acordam, todos os dias pela manhã, vê o Sol surgir para um
novo dia enquanto já caminha, indo ao trabalho que não lhe traz nenhuma
satisfação; seja aquele que carrega nas costas, uma enxada; ou aquele
que já está acostumado com o ônibus lotado que pega todos os dias.
As
mesmas caras, o mesmo horário. Preocupando-se com horários a cumprir,
com os problemas que não são seus; mas que ele faz questão de tomá-los
para ele, só para lhe garantir o pão-nosso de cada dia. Recebe um
miserável salário, ou a já esperada notícia que seus serviços não são
necessários. E não se acha merecedor de “tanto”.
Contratam
alguém mais jovem para seu cargo. O filho de outra família sem
sustento. Pois, outro como você, preferiu um jovem recém formado, a um
velho experiente; mas que não conseguiu terminar a oitava série.
Pagam-lhe
menos; ou o mais provável, muito menos; e ao ver seu velho pai, como
tantos outros, desempregado e desesperado, à procura de outro emprego;
se vê na obrigação de sustentar sua casa.
A casa de seu pai.
Casa
com memórias felizes. Que outrora, foi palco de momentos inesquecíveis,
como o dia em que ganhou o brinquedo que tanto desejou; ou a festa de
debutante, da irmã mais nova. E agora, tudo depende dele.
Talvez,
sonhasse em ser soldado; em se alistar. Ou quem sabe, um grande médico.
Mas, ele tem que ajudar seu pai. Ele deve isso a ele. E sente tanta
pena do olhar triste e cansado de seu pai; tanta pena. E uma imensa
vontade de lhe dar colo. Mas, jamais ofenderia seu herói, oferecendo-lhe
tal coisa.
Vamos deixar como está.
Tudo
isso para quê? Para que você possa sustentar a tua imensa pança com
churrasco e cerveja, com seus amigos, próximo de sua nova piscina.
Mas,
tudo bem! Tudo bem! Não se preocupe, você e todos seus amigos vão se
encontrar em palácios com lindos e suntuosos jardins, entediados com
tantas contas e pesagens de seu precioso ouro; NO INFERNO!
Sim, no Inferno, oras bolas! Ou acredita que será recebido com fogo e danação?
O Inferno sempre recebe bem seus ilustres convidados.
A
cobiça é um dos grandes pecados da humanidade. Faz uns matarem os
outros, mas não tem problema não; vou à igreja me confessar no Domingo,
rezo umas trocentas ave-marias e pronto! Não sou mais um pecador. As
cabeças que rolaram pelo fio de minhas espadas serão pagas, pelo Senhor
às famílias.
Tudo
funciona como um grande círculo vicioso. Os senhores feudais
contemporâneos – se me permitem assim chamá-los – criam os desempregados
e aposentados infelizes; que criaram e fazem jovens se tornarem
responsáveis e austeros, que indignados, se rebelam contra o sistema, e
sua grande máquina; que causam desconforto nos grandes manipuladores, o
topo da cadeia; criando uma desestruturação social e desestabilidade
econômica; que afeta seu bolso; afetando seu casamento de aparências;
que para poupar seus filhos, priva-os do mundo para não sofrerem como os
filhos de seus subordinados; fazendo neles uma lavagem cerebral e
criando pequenos monstros vazios, fúteis e cheios de si.
Sinto
nojo de seres humanos, ao sair à rua e ter que conviver com tais
pessoas. Sinto raiva do mundo. Pois, a neutralidade é a desculpa da
ignorância.
Meu
ódio não se direciona unicamente a sistemas econômicos, como já o fiz.
Capitalismo, socialismo, o raio-que-o-parta, tanto faz. São eles que
criam nomes para esses conjuntos de idéias. Elas que comandam e
organizam o caos. São elas que fazem o mundo como ele é.
Esse enorme caos é apenas um sinal que algo grande está para acontecer.
Sinto-me
enojado porque, temo por mim. Temo pela idéia de ser potencialmente
suscetível a agir como essas pessoas algum dia. Por orgulho; por bem
próprio, ou comum. Seja, para ajudar o próximo ou algum privilegiado,
que considero como um dos meus.
Mas,
sempre vejo que, os auto-intitulados “altruístas”, são os piores. Usam
da síndrome de Robin Hood às avessas: tiram dos ricos para dar a si
mesmos. Achando-se no direito de tirar de quem nos tira, só porque acham
“justo”.
Idiotas! Mil vezes, idiotas!
Mas,
eu sei, toda regra têm sua exceção. Sinto-me abençoado, quando me vejo
cercado por aqueles que deixei se aproximarem de mim. E são tão
pecadores quanto eu, ou você. Eles sempre me têm sorrisos e piadinhas
quando preciso; e sempre escutam todas as minhas teorias malucas. Não é à
toa que, os melhores discursos são feitos por aqueles que sabem
escutar.
Tenho um enorme medo de estar errado. Tanto medo.
Eles
são meu objetivo de realização humana. Se um dia, eu tiver cada uma das
qualidades singulares que eu vejo em cada um; serei o melhor dos seres
humanos.
Com toda certeza.
Gosto das pessoas, que, como eu, se preocupam em ser; e não simplesmente, existir.
Querem todos deixar seus nomes escritos no grande livro do mundo. Mesmo que, sejam lembrados por poucos.
Também quero ser assim. Quero ser, quero ser.
Não
importa se eu fumo, bebo ou curto algum tipo de droga. Se meu nome
aparecer em letras grandes e douradas nos livros de meus netos; só terão
belas palavras sobre mim.
Memórias póstumas são sempre maravilhosas. Maravilhosas e cínicas.
E todos se lembrarão, das palavras de minha carta de despedida como palavras de um revoltado. Um revoltado em essência. De um rebelde com causa e razão.
Todo rebelde tem alguma razão. Mesmo que ele próprio não a conheça.
Serei
lembrado como alguém forjado a ferro e fogo e pronto para ser mártir.
Todo mártir é rebelde. Talvez, de minha carta saia um ditado ou dois.
Me tornaria inspiração artística. Para ser sempre lembrado. Qual é a pessoa que não sonha com a eternidade?
Mas, a eternidade é tão curta para alguns.
Quem sabe, se não serei lembrado por ser um hippie doidão; ou um punk desvairado?
Só peço que não manchem minha imagem, se lembrando de mim como um yuppie; um yuppie não.
Ou talvez, até seja lembrado como um ícone de uma causa maior.
Da luta da sabedoria contra o vazio humano.
Da luta da compreensão contra a sua total ausência.
Da tolerância contra a desigualdade e estupidez.
Ou, sei lá; a luta a favor da luta, simplesmente.
Já
sentiria-me satisfeito ao ser lembrado como alguém que não gosta de se
calar. Quem se cala – por medo ou qualquer outro motivo – se torna um
comparsa.
Eu
grito, grito e grito. Ninguém me escuta. Já estou rouco. Mas, não
desisto. Desistência é para os fracos. E o meu murmúrio rouco há de ser
ouvido. Há de se juntar a outros murmúrios, que clamam liberdade.
Para assim, se tornarem um grito único.
Talvez seja, um grito inaudível e indecifrável. Mas, gritarei com todas as minhas forças. Gritarei até meus pulmões estourarem.
Quero
que, os que se tornaram cegos e surdos pela cobiça e mediocridade, nos
vejam e nos ouçam. Talvez nos vejam, talvez nos ouçam. Ou talvez não.
Talvez, continuem fechados em seus pequenos mundos. Como autistas,
auto-impostos.
Ainda se irrita com a minha voz? Sou um vagabundo? É o que pensa sobre mim?
Se todo pintor que, de suas mãos macias saem imagens de muitos outros mundos, que se encontram em nosso próprio, é vagabundo;
se todo cantor que, de sua voz aveludada e doce, saem estórias e histórias, lições e coisas belas, é vagabundo;
se todo poeta, em seus quebra-cabeças de palavras e idéias, dando cor e forma à simples letras, é vagabundo;
eu realmente o sou.
Eu sou vagabundo; sou, sim senhor!
O poeta sempre é malandro, o poeta é sempre malandro.
E todo revoltado é sempre vagabundo. Vagabundo e descartável.
Meu amor e meu ar se foram. Meu amor se foi!
Praguejando-me porque, minha inocência impossibilita-a de ver-me como homem. Procura um homem?
Sim, procure-o. Certifico-lhe que encontrará.
Um ser capaz de amar-te e fazer-te feliz, feliz!
Mas, quando voltar, estarei aqui. Para ti e para mim.
Desça do pedestal que construi para ti; sem ajuda, sem meu calço.
Mas serei teu, enquanto o ar penetrar minhas narinas, até o sopro de minha vida se for.
Beijo teus lábios à distância; quando a mim você vem.
Venha morte; venha a mim, que eu a abraço.
Não me abandone mais; tire-me desse mundo à qual não pertenço. Deste que, nunca fiz parte.
Meu
amor é puro; e você não o quer. Prefere entregá-lo ao mundo; prefere
ver-me contaminado. Mas, porque sabe que mesmo que fuja, a teus braços, o
retorno é garantido.
Chame-me
pelo nome; mas não meu primeiro, ou segundo nome que por meus pais,
foi-me dado. Chame-me pelo nome que criei e recriei, ao meu bel prazer.
Cujo não ouso dizer. Aquele que só tu, conhece as letras que o formam.
Pois, ele pertence tanto a você, quanto a mim.
E, quando me chamar, grite alto. Tão alto quanto puder, e para que eu somente escute.
Quero-te, neste momento, como um amante abraçar-te. Que saudades, que saudades!
Deixe-me olhar, apenas uma vez para trás. Uma única e ligeira vez. Quero ser inundado de lembranças e, me afogar em lágrimas. Quero partir sem dor; sem remorso; sem medo.
Por favor.
E para que você, minha amada; finalmente, feche a porta!
Feche a porta, meu amor.
Pois, este mundo não me aceita e a ele não pertenço.
Para eles, que lá estão, não passo de vagabundo e descartável.
Descartável.