11 de jul. de 2017

Sessão nº Ø23



Segunda-Feira 18:49

Consultório de Outono.

Murdock entra sem bater... Doutor Andre interrompe sua leitura com a entrada inesperada do homem mas quando reconhece seu paciente ocasional volta para marcar onde havia parado a leitura e guarda o livro.
Murdock sem dizer nada abre o botão do terno deita no divã com as pernas cruzadas olhando pro teto.

Murdock: -Alguém pode amar uma pessoa, mas fingir que ela não existe?

Doutor Andre: -Claro que sim, isso é basicamente o que todo mundo que gosta de alguém mas tem medo que o outro não goste, ou que sabe que o outro não gosta, faz.

-Pode haver outra variável?

-Bom, geralmente é a certeza ou a crença na falta de reciprocidade, mas claro pode ser qualquer outro número de coisas.

-Por exemplo, no caso as duas pessoas se amam. 
E vamos definir amor aqui, como um momento em que você não quer que acabe e que você pode ser quem é de verdade sem ser julgado por isso ou oprimido.
mas... As duas pessoas cometeram tantos erros imbecis que com os próprios braços cavaram um abismo entre elas.

-Raiva, os dois se amam e sabem disso mas algo aconteceu entre eles que fez com que um lado ou os dois ficassem tão cheios de raiva que decidiram se ignorar até que um dos lados ceda e admita o erro.

Murdock saca um maço de Lucky Strike mentolado do bolso, da dois petelecos no fundo do maço, pega um cigarro coloca na boca... continua falando enquanto acende.

-Bem, Doutor, como sempre o senhor esta certo, mas no caso
isso que o senhor disse também já aconteceu
alguém já cedeu
mas depois de ceder e se sentir bem virou as costas e continuou fingindo que nada aconteceu
o que fazer?

-Bom, no caso o lado que cedeu provavelmente acreditou que ao fazê-lo o problema estaria encerrado e por tanto deveria seguir como se nada tivesse acontecido... Dai ou o outro lado faz o mesmo ou vai entrar em uma nova discussão.

Murdock da uma tragada longa... E fica com um olhar baixo...

-....Sim
talvez seja exatamente isso
o lado que cedeu e depois voltou a ignorar o problema mas agora se sente mal
talvez isso pode virar um ciclo eterno
onde você abre mão depois tenta se segurar novamente
como um bêbado agonizando depois de uma noite daquelas mas lamentavelmente não consegue parar de beber.

-Se os dois lados não sentarem para tirar isso a limpo é exatamente o que vai acontecer.
Até um deles inevitavelmente canse claro.

-Mas essa repetição... não lhe parece algo que apenas alguém muito estupido permita perpetrar ?

-E te surpreende isso? As vezes até pessoas dotadas de uma inteligência acima da média se deixam cair em certas armadilhas que são tão óbvias que elas nem vêem chegando.

Murdock dá um sorriso amarelo...

-O Senhor so esta querendo me fazer sentir melhor... 

Doutor Andre Sorri desacreditado

-Aaaah Rapaz... Acha mesmo que Eu faria isso? Nem mesmo pelo próprio Satã.

Murdock dá uma pausa longa na voz olhando pro nada como se tivesse pensado em algo...
...
... Afrouxa a gravata.

-Tem algo pra beber aí Doutor?

-Mas é claro Rapaz... Algo em especifico?

-Algo forte...

Doutor André sorri sarcasticamente...

-Mas é claro... Afinal, você não suporta os fracos.

Doutor André abre a gaveta da mesa, pega um copo baixo de boca larga e uma garrafa de Conhaque, coloca uma dose e entrega a Murdock.
Murdock dá um gole profundo... Engole e assopra de maneira apática e devagar enquanto sente a garganta queimar.

-Hey, não tente escapar de mim...Diga Rapaz... Que pensamento te atingiu como um raio para que precisasse de uma dose?

Murdock ri levemente satisfeito com a perspicácia do Doutor.

-A vida é curta não?

-Um bom tanto.

-Nos faz pensar que deveríamos resolver os assuntos inacabados implacavelmente o quanto antes, certo?

-Deveria ser o óbvio.

-Murdock da outro sorriso amarelo... E mais um gole.

-Mas como nós dois bem sabemos... Regra numero 5, Nada na vida é obvio. 
Me responda sinceramente Doutor...
Quebraria as pernas do seu cachorro para que ele não se alimentasse deixando a Raposa invadir o galinheiro a noite?

-Não vejo o porquê faria isso

Murdock olha pra baixo... sorri... Da mais um gole.

-É...eu também não.

Levanta o rosto subitamente... Olha para o Doutor...

-A menos que você ame a raposa tanto quanto ama seu cachorro!

Murdock pondera sozinho e corta o próprio raciocínio...

-Mas... Que tipo de fazendeiro ama uma raposa, não é mesmo?

-Alguém que não é muito bom em ser um fazendeiro suponho.

Doutor André ri.

Murdock Ri também.

-Verdade.
Acho que no final
Um fazendeiro desses pode ser encontrado pendurado no seleiro com uma corda no pescoço (rs)

-Bem provável (rs)

Murdock se levanta subitamente, mata a dose de Conhaque, fecha o botão do terno, aperta a gravata deixa o cigarro no cinzeiro. 

-Vou continuar com o vinho e o jazz em casa....
Sei
Sei que é difícil me imaginar com vinho
Mas... não quero ir pro Uísque ainda.

Doutor André ri novamente divertindo-se com a postura do rapaz.

-Boa sorte com seus amigos então.

Murdock sai pela porta assim como entrou.



O cigarro continua queimando no cinzeiro...                           





















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